
VALORES PARA A CONVIVÊNCIA –PRUDÊNCIA
O QUE É PRUDÊNCIA?
A prudência é o sentido prático como método, ou seja, é o modo de fazer ou a conduta que nos faz ser práticos para conseguir o que queremos.
Assim, na teoria, parece uma espécie de jogo de palavras, mas, na realidade, é um valor eminentemente prático que consiste em saber adaptar os meios de que dispomos aos fins que pretendemos para não construirmos castelos no ar.
Para entender melhor, podemos pensar no seguinte exemplo: Elena mora no sexto andar de um edifício que, felizmente, tem dois elevadores. Ela sempre toma o elevador para subir e, às vezes, se não está carregada, desce a pé para fazer um pouco de exercício. Ontem desabou uma tempestade de verão sobre a cidade, daquelas que causam estragos; raios e trovões ofereciam um espetáculo tenebroso. Elena decidiu subir a pé os seis andares porque sabe, por experiência, que nessas ocasiões acaba a energia elétrica e um ou outro vizinho acaba ficando preso no elevador e... sem poder tocar o alarme porque está quebrado!
Elena é uma pessoa prudente porque avaliou com bom senso os meios de que dispunha para conseguir o que desejava: chegar em casa sem problemas.
A PRUDÊNCIA É UMA MESCLA
A prudência é uma mescla equilibrada de:
• Inteligência, que nos faz distinguir que meios são bons, quais, nem tanto assim, e quais são francamente maus para obter algo.
• Experiência, que nos dá argumentos, muitas vezes sem que os formulemos conscientemente, para aproveitar ao máximo os êxitos anteriores e não repetir os erros.
• Senso comum, que nos faz avaliar a utilidade desses meios tendo em vista as circunstâncias concretas.
Se aplicarmos esta mescla no caso de Elena, veremos que em outra situação ela teria tomado o elevador sem pensar um instante, mas sabe que a qualquer momento pode acabar a energia elétrica; assim lhe diz a experiência. Sua inteligência e seu senso comum lhe permitem ser prudente e optar por subir a escada para chegar em casa sem problemas.
Por que ela toma normalmente o elevador? Porque sabe que, quando o tempo está bom, são poucas as possibilidades de que a luz acabe; isso aconteceu pouquíssimas vezes.
FRASES CÉLEBRES
- Quem não conhece um caminho que leve ao mar, tem que procurar uma correnteza como companheira de viagem. (Plauto, poeta latino).
- Uma correnteza se atravessa nadando na direção das águas; não poderás vencer um rio se nadares contra a correnteza. (Ovídio, poeta latino).
- Quando a derrota é inevitável, convém ceder. (Quintiliano, retórico romano).
- É melhor perder do que perder mais. (Provérbio português)
- Não é realmente valente o que tem medo de ser, quando lhe convém, um covarde. (Edgar Allan Poe, escritor norte-americano).
Ser prudente é escolher os meios adequados aos objetivos
OS MACACOS IMPRUDENTES
Um explorador descobriu um método inteligente para caçar macacos imprudentes: os nativos punham frutos grandes e duros, talvez cocos, dentro de jarras que tinham um gargalo bastante estreito, de tal forma que a mão do macaco entrasse quando vazia, mas não saísse se estivesse cheia.
Os macacos, glutões e tolos, quando se viam rodeados pelos caçadores que se aproximavam, não eram capazes de abrir mão do manjar (que os havia feito viver um dia, certamente), e por isso perdiam a liberdade e depois a vida.
OS MACACOS PRUDENTES
No extremo oposto, encontram-se os chimpanzés do experimento do psicólogo Kohler nas Ilhas Canárias. Os macacos de Kohler ficavam dentro de uma jaula com cachos de banana pendurados no teto, de maneira que não pudessem alcançá-los nem mesmo saltando. O psicólogo deixava ao seu alcance caixas de madeira, paus e cordas, e eles aprendiam rapidamente a utilizar essas ferramentas para derrubar os cachos de banana e... comê-los.
Esses chimpanzés aprendiam rapidamente a utilizar os meios para conseguir o fim: comer as bananas.
O ilustre investigador reconhece que nem todos os chimpanzés demonstravam a mesma dose de perspicácia: uns eram mais hábeis e outros menos, isto é, mais prudentes e menos prudentes.
FÁBULA – A RAPOSA E O CABRITO (Esopo)
Uma raposa caiu num poço e, incapaz de sair, foi obrigada a permanecer nele. Eis que se aproximou um cabrito sedento e, ao ver a raposa, perguntou se a água era boa. A raposa, alegrando-se com aquela ocasião, fez um grande elogio à água, dizendo que era ótima, e o incentivou a descer também. O cabrito, sem pensar duas vezes, deu um salto e desceu, atendendo tão somente ao seu desejo. Depois de matar a sede, perguntou o que teria de fazer para sair de lá, e a raposa lhe disse que tinha uma boa ideia para salvá-los.
- Coloque as patas da frente na parede e incline os chifres, eu saltarei sobre suas costas e, quando chegar lá em cima, o ajudarei a sair.
O cabrito, ao ouvir estas últimas palavras apressou-se em seguir o conselho. Então a raposa, subindo pelas patas do cabrito, montou nas suas costas e apoiando-se nos chifres, alcançou a borda do poço e foi embora. Quando o cabrito a recriminou por não ter cumprido o acordo que haviam feito, ela voltou e lhe disse:
- Amigo, se tivesse tanto juízo quanto pelos na barba, não teria descido sem antes pensar como sairia do poço.
De maneira semelhante, as pessoas ajuizadas também devem considerar, antes de realizar as ações, como vão terminá-las.
O QUE É E O QUE NÃO É PRUDÊNCIA
Ainda que hoje em dia os automóveis tenham muitas marchas, antes só tinham três: a marcha longa, com pouco gasto de energia, para andar por estradas planas; a marcha curta, mais potente, para arranques e ladeiras fortes; e a marcha a ré, mais potente que a anterior, para ir ao sentido contrário, excepcionalmente. O motorista é o encarregado de aproveitar ao máximo a energia do motor, com o mínimo desgaste.
Do mesmo modo, as pessoas devem saber administrar suas forças para atuar sempre com a prudência necessária. Se compararmos este valor com as marchas de um automóvel e sua utilidade, entenderemos como funcionam as diferentes intensidades da prudência.
Nem sempre necessitamos da mesma intensidade de prudência
PRUDÊNCIA COM MARCHA LONGA
• É a prudência que se deve usar nas situações normais, quando a tarefa não apresenta especial compromisso
nem dificuldade relevante.
• É a marcha habitual para não queimar o motor e circular com agilidade e cuidado; é econômica e com ela se pode
cobrir grandes distâncias sem superaquecimentos.
• Nunca podemos circular sem uma marcha engatada! O veículo ficaria incontrolável.
PRUDÊNCIA COM MARCHA CURTA
• É a prudência reforçada que usamos em casos complicados, quando nos encontramos ante uma
situação problemática, comprometida ou difícil.
• É a marcha para desníveis custosos; abusar dela poderia queimar o motor; é mais lenta e supõe um maior desgaste.
• Frequentemente é totalmente necessária, se não queremos fundir o motor e ficar parados.
PRUDÊNCIA COM MARCHA A RÉ
• É a prudência que nos faz ir contra a correnteza. Chamemo-la de "objeção da consciência" e pensemos que é atuar de
uma maneira muito valente.
• É uma marcha excepcional, muito arriscada, e comporta perigos evidentes que se deve estar disposto a assumir.
• Algumas vezes é a única solução, já que é a marcha mais potente, mas... muito cuidado!
IMPRUDÊNCIA POR FALTA
• Por precipitação. Quando não paramos o suficiente para pensar e ver se os meios são adequados, corretos e justos.
• Por temeridade. Quando depreciamos o uso dos meios que evitariam os perigos desnecessários.
• Por desconsideração. Quando não prestamos atenção às circunstâncias e atuamos como cegos guiados por
princípios absolutos.
• Por negligência. Quando não prestamos atenção aos detalhes durante a execução de uma ação; isso faz com que o
resultado ponha por terra as melhores intenções.
IMPRUDÊNCIA POR EXCESSO
• Por engano ou malícia. Quando planejamos e usamos meios eficazes, mas eticamente incorretos, que violam os direitos
dos demais.
• Por previsão desproporcional. Quando queremos excluir toda possibilidade de erro ou fracasso. Isso é muito próprio
dos indecisos, que querem deixar tudo tão amarrado e seguro que, no final, não fazem nada.
• Por covardia ou pusilanimidade. Quando não colocamos em prática os meios que sabemos ser necessários e oportunos
por prever que nos causarão inconvenientes. Em determinadas ocasiões, ser prudente exige ser valente, comprometido
e ousado.
PRUDÊNCIA POR FALTA E POR EXCESSO
• Nem tudo é prudência e se pode fracassar em uma atitude prudente tanto por falta como por excesso.
• Por falta, é possível cair em uma atitude imprudente sempre que se atua de maneira precipitada, desconsiderada, negligente
ou com temeridade.
• Por excesso, ao contrário, também se pode ser imprudente se se atuar com malícia, covardia ou mostrar
precaução desproporcional.
• Uma vez mais, o verdadeiro valor se encontra no ponto médio. Quanto maior o risco, maior a prudência.
PRUDÊNCIA E IMPRUDÊNCIA NO CINEMA
Inúmeros filmes para crianças apresentam personagens prudentes e imprudentes. A imprudência de muitos animais nos desenhos animados (cartoons) faz com que os golpes, os choques, as quedas inverossímeis e as situações perigosas sejam habituais.
A prudência e a imprudência dos personagens de Guerra nas estrelas, Harry Potter, Píppi Meialonga, O senhor dos anéis etc., e de outros títulos, são e serão características imortais no mundo da linguagem cinematográfica.
Quando assistimos a um filme com nossos filhos, podemos pedir-lhes que ponham os "óculos da prudência", e vamos apontando as ocasiões em que os personagens da ficção atuam de maneira imprudente (tanto por excesso como por falta).
Também seria interessante refletir com nossos filhos sobre as imprudências, as violências e os riscos que alimentam a maioria dos videogames. As crianças devem ser conscientes de que se trata de ficção e reconhecer sempre as atitudes que eles não podem nem devem adotar.
SUGESTÃO
Em outra ocasião, podemos fazer um inventário positivo das atitudes prudentes que apareceram no filme. Que personagens, e em que situações, atuam com mais juízo? Como administram os meios de que dispõem para obter o que desejam? Eles consideram suas forças antes de empreender uma ação?
PRUDÊNCIA NA ESTRADA
Teoricamente temos nos referido à prudência de marcha longa, de marcha curta e de marcha a ré. Muitas vezes estamos no automóvel com nossos filhos e podemos aproveitar esses momentos para insistir nesta ideia.
Essa também pode ser uma excelente ocasião para aplicar e analisar o valor da prudência em relação à condução dos veículos.
Por que dizemos que a maioria dos acidentes de trânsito deve-se à imprudência? Analisaremos se é realmente imprudência e em que sentido. O que quer dizer ser prudente na estrada?
Sem dúvida, os casos reais virão em nosso auxílio: motoristas que não respeitam os sinais de trânsito nem os limites de velocidade estabelecidos, pedestres que atravessam a rua sem olhar, motoqueiros que circulam sem capacete, pessoas que falam no celular enquanto dirigem etc.
SUGESTÃO
Tanto em casa como na escola as crianças testemunham diariamente situações prudentes e imprudentes: jogos perigosos, lutas etc., e por isso muitas vezes não é necessário recorrer à ficção para encontrar exemplos relacionados com este valor.
Podemos pedir que as próprias crianças descrevam situações prudentes e imprudentes que tenham vivido recentemente, e que nomeiem os personagens que as protagonizaram.
ANALISANDO FÁBULAS
Muitas vezes, em nossa casa, e com certeza nas bibliotecas escolares ou municipais, podemos encontrar livros de fábulas antigas ou modernas.
Se lermos algumas delas, comprovaremos que são lições impressionantes do senso comum. Podemos lê-las com nossos filhos e tomar nota das que se referem principalmente à prudência, à sagacidade, à capacidade de renunciar a um bem menor para obter um maior, à possibilidade de aceitar uma dor menor para evitar uma maior etc.
Em muitos capítulos deste livro recorremos às fábulas para exemplificar a importância de um valor. Neste caso, a leitura de “A raposa e o cabrito” pode ser de grande utilidade para que nossos filhos entendam a importância de avaliar corretamente os próprios meios e capacidades antes de empreender qualquer ação. Só assim é possível atuar de maneira prudente e correta.
O XADREZ, JOGO PRUDENTE
Se nosso filho ainda não aprendeu a jogar xadrez, esta seria uma boa oportunidade para ensinar; se faz tempo que não jogamos, aproveitemos para recuperar o costume; e, se já jogamos em casa, vamos gastar uns segundos para refletir sobre o que é uma conduta prudente no jogo e como a praticamos. Por exemplo, perder peças de valor inferior para salvaguardar as de maior valor tático, prever as consequências do movimento de uma peça, arriscar, retroceder, sacrificar, atacar, proteger o rei... são atitudes prudentes.
SUGESTÃO
Podemos comparar o jogo de xadrez com o jogo de damas e observar uma diferença básica: neste último todas as peças têm o mesmo valor, portanto as estratégias de prudência são muito menos notórias, é preciso somente proteger com cuidado especial as pedras que estão prestes a chegar ao final do tabuleiro, converter-se em damas, e ter um valor efetivo maior que as demais.
A PRUDÊNCIA E OS ESPORTES DE AVENTURA
Proporemos este tema de conversa aos nossos filhos: como devemos unir o valor da prudência à prática dos esportes chamados de risco? Como podem ser prudentes ou imprudentes aqueles que os praticam? O que significa tomar medidas adequadas? Quais medidas qualificaríamos de cautelas excessivas que chegam a ser ridículas? Somos prudentes ou imprudentes nos esportes que praticamos habitualmente? Quanto mais casos e exemplos comentarmos, melhor.
Uma excursão pela montanha ou um dia de praia nos proporcionarão material mais que suficiente para iniciar um diálogo interessante.