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VALORES PARA A CONVIVÊNCIA - LIBERDADE

LIBERDADE - Unknown Artist
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LIBERDADE, VALOR FUNDAMENTAL

 

A liberdade é um valor tão fundamental que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas na histórica sessão de 10 de dezembro de 1948, em Paris, a repete trinta vezes, seja como substantivo (liberdade), como adjetivo (livre), como advérbio (livremente), ou como verbo (liberar).

Por liberdade a humanidade lutou, morreu, matou, sofreu, sonhou, escreveu; houve guerras, revoluções, emboscadas, prantos, risadas, heróis, mártires; surgiram teorias filosóficas, tendências políticas, movimentos sociais, ditaduras e anarquias.

 Nós desejamos ser livres, que nos deixem fazer o que queremos, que não nos submetam à escravidão de nenhuma espécie. E, naturalmente, nosso filho também deseja e tem todo o direito a isso. Sobre nós recai a obrigação de ensiná-lo a ser livre.

Encontramo-nos ante o valor mais comprometido e mais frágil; o mais desejado e o mais temido; o que se presta melhor às chantagens e aos abusos; o que nos pode trazer as maiores satisfações e os maiores desgostos. E, apesar de tudo, devemos educar na liberdade.

 

SÓ É LIVRE O SER QUE PENSA

 

O ser humano pertence ao gênero animal, propriedade que implica uma série de necessidades que podem escapar da ideia de liberdade: estamos submetidos inexoravelmente a condições anatômicas, físicas, temporais, espaciais..., sobre as quais nossa vontade pode intervir muito pouco ou praticamente nada. O frio, a fome, o cansaço, o sonho, a digestão, a dor, o prazer, o crescimento, a doença, a decrepitude e a morte têm domínio sobre nós.

Entretanto, Aristóteles já definiu o ser humano como animal racional, atributo específico que nos permite

pensar, imaginar, ponderar, avaliar, prever, decidir... E porque somos racionais, merecemos prêmios e castigos.

Se não estivéssemos convencidos de que as pessoas têm liberdade, que poderíamos ter feito de outra maneira, não haveria códigos nem tribunais, nem virtudes nem cárceres, nem honra nem desonra; seria impossível falar de direitos e de obrigações. Para quê? Se fazemos o que não podemos deixar de fazer, de que serve elogiar ou recriminar?

Não sabemos em que medida somos livres, mas temos certeza de que somos e atuamos em consequência disso. E nosso filho também deve ter isso muito claro.

De fato, até agora temos falado de responsabilidade, tolerância, diálogo, generosidade, sinceridade ..., mas seria impossível tratar de educar em todos esses valores sem estar convencidos de que estamos diante de um ser livre.

Podemos manejar fisicamente um ser que não seja livre, usá-lo ou domesticá-lo, através de mecanismos

próprios para este fim, mas nunca poderemos educá-lo para o amor nem para que prefira ser bom em vez de ser mau. Trata-se de uma prerrogativa exclusiva dos seres livres; e são livres porque podem decidir o que vão fazer, porque pensam.

Por tudo isso, o primeiro passo para deixar livres os nossos filhos é ajudá-los a pensar, a ter os olhos e a mente abertos, a ter senso crítico, a não serem escravos do pensamento dos outros. A escravidão, de qualquer tipo, é o polo oposto da liberdade.

 

A LIBERDADE É PERIGOSA

 

De qualquer modo, devemos matizar: a liberdade é perigosa se anda sozinha e, por isso, não podemos desvinculá-la do restante dos valores que devemos transmitir aos nossos filhos.

Se apostamos em educar na liberdade como valor único ou valor supremo da escala de valores, pode ser que acabemos por formar um ser antissocial, incapaz de conviver com outras pessoas livres. A hipertrofia de qualquer valor é prejudicial, mas a hipertrofia da liberdade é fatal.

Devemos admitir que uma pessoa livre cria mais problemas a seus educadores do que uma marionete aos seus manipuladores. Se queremos formar seres livres (e, em princípio, ninguém deveria desejar o contrário), temos de aceitar o risco de que "sejam livres", no sentido que pode ser que pensem diferente de nós, que sua escala de valores seja outra, ou que seus ideais não concordem com os nossos.

Ensinar a ser livre é também ensinar a duvidar, a aceitar o erro, a não estranhar ter-se equivocado, aceitar as consequências das próprias decisões, a saber corrigi-las quando for necessário, a arrepender-se, a pedir perdão (só pode pedir perdão quem agiu livremente), a respeitar a liberdade dos outros, a não ser livre submetendo outros, a trabalhar para que todo mundo seja livre...

Se nosso filho não se comportar dessa maneira, é porque não aprendeu a ser livre.

 

FRASES CÉLEBRES

 

- Todos somos escravos das leis para que possamos ser livres. (Cícero, filósofo romano)

- Quem é livre? O sábio que manda em si mesmo. (Horácio, poeta latino)

- Nenhuma escravidão é mais vergonhosa do que a voluntária. (Sêneca, filósofo latino)

- A liberdade é um bem comum e, enquanto todos não participam dela, não serão livres os que se creem como tais. (Miguel de Unamuno, escritor e filósofo espanhol)

- A liberdade supõe responsabilidade. Por isso, a maior parte das pessoas a teme tanto.

(George Bernard Shaw, escritor irlandês)

 

O ÔNIBUS E O TREM DE FERRO

 

Na estação da estrada de ferro, um ônibus esperava os viajantes que deviam chegar no trem das nove da manhã. Este chegou pontualmente e, durante os minutos em que o trem aguardava que lhe dessem sinal de partida e o ônibus ia recebendo os passageiros e suas bagagens, os dois começaram a conversar:

- Querido ônibus, você faz o que lhe dá na telha; pode circular com plena liberdade; vai por onde quer; se você decide virar à esquerda ou à direita, nada nem ninguém o impede; você é livre de verdade. Que sorte a sua! Eu, ao contrário, sempre estou sujeito a estes trilhos de ferro; que desgraça a minha se tentar sair destes trilhos que marcam inexoravelmente o meu caminho!

- Você tem razão, velho amigo trem! Eu posso escolher meu caminho e mudá-lo quantas vezes desejar; posso descobrir lugares novos horizontes desconhecidos; inclusive, se me apetecer, parar em uma pradaria verde e descansar um pouquinho enquanto meus ocupantes almoçam. Isso é certo, mas nem tudo é tão bonito. Você sabe a quantidade de perigos a que estou exposto a cada instante? Devo olhar pelo retrovisor a cada passo que dou; os outros veículos me assaltam por todos os lados. Ai de mim se me distraio um segundo! E se saio da estrada? E se encosto demais na sarjeta? E se me deslumbro com o automóvel da frente? A catástrofe pode ser monumental.

- É verdade, eu não tinha pensado nisso. Minha submissão ao trilho reduz a minha liberdade, mas aumenta a minha segurança. Posso circular quilômetros e quilômetros de olhos fechados, como dizem, e posso alcançar velocidades de sonho... desde que não saia dos meus polidos trilhos. Não sou dono da minha direção; meu itinerário é marcado pelos outros; e as mudanças das agulhas solucionam as encruzilhadas que poderiam me deixar dúvidas.

- Sim, velho trem. Acontece conosco o mesmo que acontece com as pessoas, sabe? Mais liberdade, mais riscos, maiores perigos, mais responsabilidade ante as decisões. É muito bonito ser livre, mas também muito difícil. O preço que se paga pela liberdade é altíssimo, mas vale a pena.

O diálogo foi interrompido pelo apito do chefe da estação, que deu a saída ao expresso Madri-Barcelona. Ao mesmo tempo, alguém dentro do ônibus perguntava em voz alta: "Por onde vamos passar?".

 

ATIVIDADES

 

Assim como nos outros valores propusemos jogos e atividades, neste caso sugerimos condutas e atitudes que devemos adotar de modo habitual em casa. Com elas se construirá um clima de liberdade, única maneira para o desenvolvimento deste valor tão importante.

 

ESTABELECER DIÁLOGOS SEM TABUS

 

Temos de conseguir estabelecer com nossos filhos um diálogo aberto, em que possamos conversar sobre qualquer assunto com normalidade e sem temores; em que se possa dizer o que pensamos e o que queremos sem medo de censuras nem de desqualificações. Será a melhor maneira de ensinar na prática que "Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento" (Direitos Humanos, art. 18), e que "Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão" (Direitos Humanos, art. 19).

 

PERMITIR A TOMADA DE DECISÕES, DEIXANDO MARGEM À LIBERDADE,

MAS PEDINDO RESPONSABILIDADE

 

A tomada de decisões, apropriada a cada idade, constitui uma escola excelente de formação na liberdade e na responsabilidade, sempre e quando lhes ajudamos a ver os prós e os contras. Um "você decide" é um desafio à sua capacidade de autonomia, e um "eu o ajudo a decidir" é nosso dever ante a incapacidade natural à sua idade.

Se decidirmos sempre por eles, conseguiremos belíssimos pássaros em gaiola de ouro; mas, pobres pássaros! Quando abrirmos a porta da gaiola, serão comidos pelo primeiro gato espertalhão porque não aprenderam a voar.

 

PROPOSTA DE ALTERNATIVAS CONFIANDO NELES

 

A liberdade só é possível quando se possui a capacidade de escolher. A pessoa não só enfrenta a escolha entre o bom e o mau, mas entre várias possibilidades positivas (posso fazer isto ou aquilo) ou entre a contradição de fazer ou não fazer.

Onde não há alternativa, não há liberdade. Mas temos de oferecer alternativas possíveis; o contrário seria uma chantagem encoberta.

De todo modo, só podemos educar nossos filhos na liberdade se confiamos neles. E devemos fazê-lo desde o princípio, sem necessidade de que façam algo para merecê-la. Só ante o possível mau uso deveremos limitá-la, embora com certo pesar.

 

ROMPER ESQUEMAS COM CRIATIVIDADE, CRITIFICANDO SUAS DECISÕES E

RELATIVIZANDO SEUS ABSOLUTISMOS

 

A liberdade tem muito a ver com a criatividade. As crianças possuem uma notável criatividade, que frequentemente nos surpreende porque rompe os nossos esquemas. Mas é precisamente este confronto o que dá jogo à sua liberdade.

Excelentes pedagogos formularam dessa maneira: a criança deve ser capaz de construir um "E se...  (ou "O que aconteceria se ... '?", "Suponhamos que... ) como forma de estímulo constante.

Finalmente, devemos colocar nossa posição crítica e deixar que nossos filhos coloquem a deles. Entretanto, também devemos fazer-lhes ver a injustiça de suas posições absolutas e inflexíveis: ainda que tudo pareça branco ou preto, temos de mostrar-lhes a infinita gama de tons cinza.

 

ANIMAR-LHES NOS FRACASSOS, RECONHECER SEUS EXITOS, ELOGIAR SEUS ACERTOS

E CORRIGIR SUAS FALTAS

 

O fracasso e o desânimo são inimigos declarados da liberdade. É necessário reconhecer que o risco de abrir caminhos implica uma grande possibilidade de sofrer um revés.

Os pais serão os encarregados de devolver-lhes a confiança, animar-lhes a voltar a tentar e ensinar-lhes que a liberdade tem suas vantagens e desvantagens.

É importante respeitar o direito ao erro; e ensinar-lhes a respeitar o direito ao erro dos demais.

Primeiramente, devemos ressaltar seus acertos, elogiar seus feitos; e depois (só depois) fazer com que reconheçam e corrijam seus erros.

Só elogios os farão vaidosos; só censuras os farão pusilânimes.

 

TOMAR DECISÕES COMPARTILHADAS E RESPEITAR OS ACORDOS,

VALORIZANDO AS OPINIÕES E OS GOSTOS DOS DEMAIS

 

Os pactos têm muito a ver com o exercício da liberdade e, ao mesmo tempo, nos introduzem no respeito à liberdade dos demais. As decisões acordadas com os demais são uma trama de diálogo, sinceridade, liberdade, cooperação e responsabilidade.

Em casa podemos e devemos tomar decisões consensuais entre todos os membros da família.

Quando os gostos são díspares, temos de tentar chegar a um acordo que seja o mais favorável possível para todos. Não é fácil, mas as decisões tomadas por consenso são uma grande lição de convivência .

 

EXPLICAR NOSSAS IMPOSIÇÕES E RECUSAR OS ABUSOS AUTORITÁRIOS

 

Quando temos de lhes impor nossa decisão, mesmo que os contrarie, devemos tentar fazer com que vejam, dentro do possível, a justificativa da nossa imposição, que não é fruto de um autoritarismo gratuito, mas de uma reflexão serena de quem tem a responsabilidade de velar pelo seu bem.

 

INICIAR-LHES NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA, RESPEITANDO AS LEIS DEMOCRÁTICAS

E OS LIMITES DA LIBERDADE, PARA CONCILIAR VIDA COLETIVA E LIBERDADE INDIVIDUAL

 

A sociedade democrática é uma soma de liberdades com limites pactuados, a fim de que todos possam ser tão livres quanto seja possível. Este difícil jogo de equilíbrio, imprescindível se queremos viver em uma sociedade pacífica, deve ser aprendido em casa.

Devemos mostrar que, em uma sociedade respeitosa e justamente organizada, estes princípios se aplicam em larga escala, apesar das falhas sempre inerentes ao egoísmo humano. Não somos utópicos, confiamos no progresso da humanidade, com seus eventuais retrocessos.

Quando formos votar nas eleições, devemos pedir que nossos filhos nos acompanhem e aproveitar a ocasião para lhes falar dos mecanismos democráticos da sociedade, dos deveres da maioria, do respeito às minorias, do respeito a todas as leis, da liberdade individual e da liberdade dos demais. Tampouco devemos ter medo de lhes falar da corrupção que pode corroer a liberdade de um povo.

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